quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Olhos Castanhos

Os olhos daquela mulher eram ternos, a mais sutil alegria que existia em um olhar feminino e materno. Seus olhos castanhos eram muito mais que entradas, e sim saídas de toda pureza de um ser. Sua íris, um arco-íris de cor refletido no espelho de uma vida de conquistas. Antes de ontem tudo era primavera em pleno inverno. Mas um feixe vermelho cortou sua ilusão. Muito mais que luz, a personalidade caqui quebrou sua imagem com cheiro de vodcka. A própria vermelha que recebia seus melhores sorrisos olhados. Ela virou assassina e matou toda a fantasia que havia naquele olhar feminino. Esse que hoje é vazio, a mais dureza de quem perdeu o sentido de acreditar. Os olhos castanhos mais bonitos que um dia destruí.

Camila de Magalhães

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Contra(o)tempo


Começo a morrer de você. Seus braços se distanciam cada vez mais do meu abraço. E o mais estranho, também interessante, é que eu já não sinto a dor de lhe ver saindo afora. Como o cansaço da falta envolveu a minha mente seca o tempo levou o seu sorriso torto a se cristalizar, desbotar. Conforme todo o existente mais um ciclo anil se fecha deixando no ar as marcas dos desejos que nunca serão saciados, (des)figurados à arte de poeticar o nosso fim.

Camila de Magalhães

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Verdades Opostas

Às vezes a vida propõe caminhos concretos de opções paradoxas. E a melhor estrada a seguir é contra os próprios princípios e conceitos. Mas os humanos que se contentam em serem cuidados indicam a escolha da pseudo-alegria como fonte de sorrisos. Talvez eles estejam certos. Como também esse pode ser o motivo de eu continuar sozinha nesse mundo paralelo. Todavia ainda existe poesia demais em mim para aceitar essas condições sutis. Por isso insisto em viver essa surreal mentira fantasiada desses versos vad(z)ios.

Camila de Magalhães

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Dose de Você


Mais uma dose? Caipirinha de limão ou caninha de canela? Deixe de (des)obrigações, nós ainda vamos ficar muito tempo aqui . Essa MPB marcada e o calor de quem quer esquecer que existe formam o clichê perfeito da nossa mesa de bar. Não estamos sozinhos, mas estamos isolados desse mundo de quem quer se divertir. Nosso assunto vai além de palavras com cheiro de vodka barata e nossas mentes estão fixadas num ponto comum. Numa idéia fixa machadiana talvez. É por isso que estou aqui. Eu quero beber com você. Muito além do lirismo dos sóbrios e dos trêbados, nossa história vem do surreal espaço. E eu preciso saber se seus opostos atraem os meus versos vadios. Por isso insisto em lhe chamar até esse botequim. Mais uma dose, garçom! Para você fingir que não sabia o porquê de estar comigo.

Camila de Magalhães

Desenho (Des)figurado

Esse desenho que um dia foi manchando no papel virou imagem de figuras no mundo. Marcar-lo aqui é saber que sempre ele existirá enquanto a página estiver no ar. Mas essa agora fotografia é muito mais que riscos que ganharam contornos definitivos, e sim uma possível era presa nesse espaço quadrado. Talvez já seja tarde demais para criar descrições futuras de saudades, por isso eu deixo apenas palavras que um dia batucaram na minha cabeça para ser livres. Esse presente é tenso. São muitas as emoções presas em curto espaço de tempo. Pode-se dizer que durante dias elas foram divididas em quatro como o espaço da folha de papel agora amarela, mas também é possível que só seja um pouquinho de memória inútil. Não sei qual seria a resposta mais certa a pergunta que não foi feita. Dessa maneira só escrevo. Pois um dia tudo era real e os sonhos eram nuvens que se formavam de vida. E nesse tempo eu senti o sabor da alegria, da paz e do abraço. Hoje ou amanhã isso será mais um lado jogado no afora das horas e tatuado no meu eu ainda vazio.

Camila de Magalhães

Acesso Negado

Não! Eu já não posso te ajudar. Aqueles dias em eu respirei teu olhar para poder sentir teus problemas infantis não mais são possíveis. A minha essência vermelha era perdida e minha palavra amiga só soava como gritos aos seus ouvidos sutis que desejavam apenas mentiras. Não! Eu já não posso te ajudar. A vida me tornou pedra através dos espelhos que atravessei quando a solidão se fez presente. Assim quebrei todos os reflexos que me cortaram para poder seguir em paz. Minha pele ainda é sensível demais para ti bloquear a frieza do vento. Não! Eu já não posso te ajudar. Eu virei um egoísta, eu lírico aprisionado em prosa. Teu sofrimento não comove meus olhos ressecados. Por isso indico a porta de saída da minha poesia, pois não há o que fazer por ti!

Camila de Magalhães

domingo, 5 de outubro de 2008

(Re)vestimento Caqui



Quando visto meu corpo nu de poesia não são os versos que revestem as suas ondulações, e sim os vestidos rubis que transpassam minha silhueta fina. Nunca o cubro por causa da transparência, pois meus olhos castanhos descrevem todos os meus poros e arrepios. Eu o cubro por causa da decência de um mundo com escrúpulos de preconceito e cheio de olhos que o imaginam desconcreto. E é esse mesmo motivo de manter minha boca a caqui, meus cabelos em vermelhos e amarelos, meus olhos circulados de giz preto e toda a minúcia que eu uso para intensificar a essência do meu ser externo. Jamais serão futilidades de quem é vazia, porém poeticagem de quem ver no oposto do espelho um instrumento de viver dias e sentir o tato de mãos extras.

Camila de Magalhães

Vácuo Paradoxo

Quando a mente está vazia o corpo apenas recebe estímulos sensoriais. E a dor é somente ardor de fogo na tristeza do vento frio do ar. Quando nos ouvidos “eles” estão calados tudo vira solidão do que era paralelo. E a menina se torna estática de movimentos que não eram seus. Quando as mãos perdem a prática de viver o papel vira mente vazia de ouvidos surdos. E os versos, seus processos de energia, viram vácuo apoético de quem perdeu a chave de criar.

Camila de Magalhães

Máscara Perdida


Maquiagem vermelha recobre meu ser. O lado de fora é paradoxo à desforça interna. O mundo velho está no lugar comum. Não mais existe branco. Momentos mancharam a cor das maçãs do meu rosto de lágrimas salgadas. Descobriram a minha máscara perfeita. Estou nua na frente do meu público de cadeiras vazias. As tatuagens que fiz estão perdendo a cor e preenchendo lugares não-meus. Já não ouço o batuque musical de quem não existe. O Drummond que um dia projetei não aparece nas entrelinhas do meu abraço. E o reinado dos meus muros não vêem o meu crescer apesar da minha carapaça sofrer esgarçamento. O mundo é o nada que sempre foi. E eu, apoética, sou peça que não se encaixa em sua natureza já queimada.

Camila de Magalhães